sexta-feira, 26 de julho de 2013

Porto Alegre: Ciclovia da discórdia

18/07/2013 - Zero Hora - Porto Alegre

Inaugurados há exatos 40 dias, os 880 metros da José do Patrocínio reservados para o trânsito de bicicletas se transformaram em alvo de queixas na região. Ciclistas alegam que a faixa é estreita, e o asfalto, desalinhado. Já para os comerciantes da rua da Cidade Baixa, a dificuldade é a restrição de 50 vagas de estacionamento e a diminuição do espaço para carga e descarga. Alguns alegam que, inclusive, já perderam clientes:

- Muitos deixam de vir porque não têm onde parar, e fica complicado para carregar grandes pacotes - reclama Emílio Doria, gerente de uma pet shop.

A insatisfação, no entanto não chega a ser um consenso no setor:

- Não tenho nada contra e, no geral, considero a ciclovia positiva. A circulação de carros ficou mais afastada e muitos clientes usam a faixa para se locomover - diz a dona de uma loja de informática Eonar Leite.

Fazendo a ligação entre as avenidas Loureiro da Silva e Venâncio Aires - que também integram o plano de ciclovias da Capital -, a pista tem registrado movimento constante. Mas uma série de insatisfações permeia os usuários que andam sobre duas rodas: a instalação da faixa no lado esquerdo da via, o que dificultaria os acessos e obrigaria o cruzamento em frente aos carros, e o desnível da pista próximo ao meio-fio.

A analista de sistemas Kelly Sganderla, 34 anos, abandonou o carro da família e, diariamente, desloca-se de bicicleta pela região para ir ao trabalho. A decisão foi motivada por uma insatisfação: a falta de paciência com o trânsito. Usuária da ciclovia da José do Patrocínio e membro da Associação dos Ciclistas de Porto Alegre, ela reconhece que o espaço ainda precisa de melhorias:

- Da forma como está, não funciona porque não há acessos, mas sabemos que não é uma ação isolada e que, no futuro, será formado um grande cinturão que ligará a Zona Sul e o Bom Fim - pondera.

Aos empresários da região, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) promete providências. Segundo o diretor-presidente, Vanderlei Capellari, estão programadas medidas para atender aos pedidos - mesmo que parcialmente:

- De qualquer forma, a avaliação é positiva, já que o número de reclamações é menor do que a quantidade de pessoas que utiliza a faixa - ressalta.

No final do mês passado, os descontentamentos da comunidade da Cidade Baixa foram apresentados à EPTC em uma reunião no salão paroquial da Igreja Sagrada Família. Entre os comerciantes, estava Bruna Vivan, 25 anos, dona de armazém de produtos coloniais:

- A sensação é de que a ciclovia não ficou boa nem para os ciclistas, nem para os moradores e nem para o comércio. Os ciclistas defendem o compartilhamento de pista, que ela está irregular porque deveria estar no outro lado da rua e no sentido do trânsito. Por isso, acreditamos que tenham ocorrido os outros problemas. O espaço para carga e descarga, que já era pouco, diminuiu. Temos fornecedores que chegam a não vir - desabafa.

Dentro do plano cicloviário da cidade - que já conta com 14 quilômetros de faixas exclusivas a bicicletas - o espaço da José do Patrocínio apresenta uma peculiaridade: pela primeira vez, uma faixa de veículos foi retirada para a instalação da ciclovia.

Até a Copa do Mundo, a prefeitura promete chegar a um total de 50 quilômetros de ciclovias na Capital.